Compreender o livro de Ezequiel é de grande importância, seja pelo fato de seus oráculos e visões serem difíceis, mas de grande profundidade, ou pelo fato da edificação prática que ele causa em nossas vidas, pois há uma grande mensagem de arrependimento e mudança de vida. Certamente, Ezequiel viveu tempos deveras difíceis e complicados que refletem a corrupção que poderemos ver nos últimos dias. No meio deste contexto caótico, surge a figura de um homem misterioso que fará tudo segundo a vontade daquele que o enviou, Deus. No entanto, Ezequiel não dá maiores detalhes sobre a identidade deste homem; porém, iremos analisar algumas somas importantes do texto para chegarmos a uma conclusão mais profunda do que Deus queria ensinar. Este texto será prático e direto, com efeito, procurarei trazer de forma mais sucinta as conexões proféticas apresentadas pelo Espírito, através dos profetas, que foram manifestas.
Relações Proféticas do Homem Vestido de Linho
Em Ezequiel capítulo 8, temos uma importante informação: o fato de que tanto Ezequiel quanto Daniel estão em contextos semelhantes, mas com breves diferenças em relação aos tempos. No entanto, os dois estão no exílio babilônico, o que é para nós uma ligação entre os dois profetas. Podemos, entretanto, notar o fato de que um Homem vestido de Linho aparece aos dois profetas, mas com ênfases diferentes:
(Ezequiel 9:2)
"Eis que vinham seis homens a caminho da porta superior, que olha para o norte, cada um com a sua arma esmagadora na mão, e entre eles, certo homem vestido de linho, com um estojo de escrevente à cintura; entraram e se puseram junto ao altar de bronze."
Agora compare com Daniel:
(Daniel 10:5-6)
"Levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos de ouro puro de Ufaz; o seu corpo era como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus olhos, como tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como o estrondo de muita gente."
A) Ezequiel - Revela o Homem com o tinteiro na mão para selar aqueles que eram justos;
B) Daniel - Enfatiza o tempo dos eventos, Setenta semanas, as visões dos Reinos e, por fim, a ressurreição, e tudo isso estará implícito quando este Homem vestido de linho se manifestar.
Ao olharmos para o Apocalipse, é possível ver que Cristo, no início, no capítulo 1, aparece a João vestido com vestes talares, mas que na realidade são as vestes de linho:
(Apocalipse 1:12-16)
"Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força."
Podemos identificar que em Apocalipse, Cristo se apresenta com as mesmas descrições do Homem vestido de linho de Daniel 10, isto para que fique plenamente revelada a identidade do Homem vestido de Linho: Jesus o Cristo, Filho de Deus. Contudo, Apocalipse traz uma ênfase sacerdotal, porque Ezequiel e Daniel não trazem claramente este fato, pois Deus haveria de fazer isso no momento certo, quando Cristo, por meio da ressurreição, manifestasse em si mesmo o Sacerdócio de Melquisedeque. Claramente em Apocalipse temos algumas relações proféticas cíclicas que revelarão até mesmo o que significavam as aparições deste "Homem vestido de linho".
Ezequiel, Daniel e Apocalipse trazem contextos muito semelhantes, a ponto de um profeta revelar o outro. No entanto, em épocas diferentes. Primeiramente, perceba que Ezequiel vivia no cativeiro babilônico, bem como Daniel. Porém, João vivia no cativeiro da ilha de Patmos, território pertencente ao Império Romano. Geograficamente, eram lugares diferentes, mas tipologicamente traziam a mesma ideia. Ezequiel foi arrebatado até o templo em Jerusalém para ver as abominações que estavam ocorrendo no templo. Por conseguinte, João foi arrebatado ao templo também, mas não a sombra, porém a realidade. João foi arrebatado, não com essas palavras exatamente, mas diz o seguinte:
(Apocalipse 1:9-10)
"Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta,"
Aqui é dito que João se achou em espírito, ou talvez no Espírito, no Dia do Senhor, isto para trazer o cumprimento do que Jesus havia dito para este no quarto evangelho:
(João 21:20-24)
"Então, Pedro, voltando-se, viu que também o ia seguindo o discípulo a quem Jesus amava, o qual na ceia se reclinara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o traidor? Vendo-o, pois, Pedro perguntou a Jesus: E quanto a este? Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me. Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro."
Havia aqui uma promessa de que João veria a vinda do Senhor ainda em vida, porém sabemos que este discípulo morreu em Éfeso, segundo a história. Ora, Jesus não estava dizendo que João não morreria, mas que ele seria levado até o tempo da vinda de Cristo, por isso diz: "Achei-me em espírito no Dia do Senhor". Portanto, João foi transportado para aproximadamente 2000 anos depois, no evento que está descrito como "o Dia do Senhor".
Sabemos que o Apocalipse é o ápice da revelação de Deus e que Ele não traria sombras de coisas mais futuras, pois as últimas coisas são exatamente o que ali está descrito. Portanto, as coisas que os outros profetas, Ezequiel e Daniel, apontavam eram para o que ocorreria no fim. Contudo, isso não significa que o Apocalipse não possa revelar o significado do que estava no passado. Deus, por meio desses três profetas (e outros, mas que não falaremos agora), mostra a mesma coisa em tempos e épocas diferentes e com palavras diferentes, mas os significados e sentidos são exatamente os mesmos.
Em Ezequiel, podemos ver claramente que Deus revela como Babilônia entrou e habitou no coração de Jerusalém. Os ídolos, a adoração, etc., todo o contexto aqui demonstrado mostra pessoas que em seus corações fizeram literalmente morada de Babilônia. Pois, ainda que fisicamente eles estivessem em Jerusalém, suas mentes e corações estavam em Babilônia.
Devemos entender que este homem de linho apareceu aqui pelo fato de que Deus quis mostrar uma relação profética, pois quando olhamos para suas aparições, podemos perceber que ele geralmente sempre está associado a algum evento relacionado à Babilônia. Em Daniel, ele se apresenta para este e demonstra eventos importantes dentro do contexto da Babilônia. Em Ezequiel, podemos ver os ídolos babilônicos sendo manifestos, a imagem de Tamuz, animais impuros nas paredes, homens adorando o sol, com efeito, a missão deste homem vestido de linho será a destruição dos Ímpios, no capítulo 9, mas no capítulo 10 purificará a cidade com as brasas do altar. O Homem vestido de linho cobrará os pecados daqueles que se perverteram com estes ídolos. No entanto, em Apocalipse, ele se manifestará repreendendo Jezabel, que claramente é uma ligação com Babilônia e que corrompia os servos de Deus.
Podemos ver que algumas coisas aqui são relevantes para nós em relação aos ímpios:
1) - Imagem do ciúme;
2) - Imagens abomináveis de animais impuros;
3) - Setenta homens com incensário;
4) - Mulheres chorando a Tamuz;
5) - Vinte e cinco homens virados para o sol.
Podemos aqui traçar alguns paralelos muito interessantes e, além disso, totalmente didáticos, pois esses elementos acima refletem coisas passadas e coisas futuras. Sabemos que Deus mostra o interior, de forma exterior, do mesmo modo que mostra o futuro por meio do passado, para que possamos discernir aquilo que Deus enxerga. No entanto, muitas vezes esquecemos destes detalhes e atentamos apenas para o exterior. Em Ezequiel 8, quando Deus mostrou as abominações do povo, perceba que Ele enfatiza o templo e a adoração. No entanto, o que Ele quis mostrar plenamente era o interior dos homens, aquilo que se passava em seus corações. Aquele templo, mesmo que edificado por Salomão, reflete aquilo que Deus haveria de fazer em Cristo: fazer dos homens moradas para Deus. Entretanto, neste tempo, haviam apenas sobras e não a realidade perfeita do que Deus faria. Para aqueles judeus, e para os que hoje não têm a revelação do Espírito, Deus estaria apenas mostrando um templo físico e de pedra. Porém, àqueles que têm o discernimento proveniente do Espírito, poderão compreender que tudo ali que Deus quis demonstrar era o que habitava na mente e no coração dos israelitas.
O templo era considerado um lugar santo, o centro da santidade do povo de Israel. Mas nada adianta se o centro não for o próprio Deus, e exatamente isso estava ocorrendo: os homens estavam trocando Deus por ídolos babilônicos, cultos babilônicos, etc. Vejamos como o Espírito fala sobre estes pontos:
(Ezequiel 8:3-5)
"Estendeu ela dali uma semelhança de mão e me tomou pelos cachos da cabeça; o Espírito me levantou entre a terra e o céu e me levou a Jerusalém em visões de Deus, até à entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte, onde estava colocada a imagem dos ciúmes, que provoca o ciúme de Deus. Eis que a glória do Deus de Israel estava ali, como a glória que eu vira no vale. Ele me disse: Filho do homem, levanta agora os olhos para o norte. Levantei os olhos para lá, e eis que do lado norte, à porta do altar, estava esta imagem dos ciúmes, à entrada."
Algumas coisas devem ser compreendidas aqui, não apenas em sombras, mas também em realidades. Para compreender as sombras, basta apenas ler um livro de história, mas para entender a realidade, é necessário ter o discernimento do Espírito. Ezequiel relata que o Espírito o levou para Jerusalém em visões de Deus, e da mesma forma, também precisamos ser "levados" para Jerusalém por meio do Espírito, isto é, ver o que o Espírito quer nos dizer. A primeira coisa que devemos entender aqui é que o Espírito enfatiza a porta norte. Embora esta parte seja difícil de discernir à primeira vista, analisando todo o livro de Ezequiel, bem como outros, podemos compreender que a porta norte representa tudo aquilo que fala dos Inimigos de Deus, do pecado que vem do estrangeiro. Tanto é assim que neste texto temos o enfatizar do Espírito de que a imagem do ciúmes estava na entrada, no pátio de dentro à porta que olhava para o norte. O caminho que era ao norte, isto em Jerusalém, estava relacionado com as nações estrangeiras que frequentemente faziam seus caminhos do norte e passavam por Jerusalém, para depois se deslocarem ao sul em direção ao Egito. Isso ocorria porque as regiões no entorno de Israel eram desérticas e difíceis, o que motivava conflitos e guerras na região. Agora, perceba qual era a direção que o Espírito atribuiu ao reinado de Nabucodonosor:
(Ezequiel 26:7)
"Porque assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu trarei contra Tiro a Nabucodonosor, rei da Babilônia, desde o Norte, o rei dos reis, com cavalos, carros e cavaleiros e com a multidão de muitos povos."
E diz mais sobre a destruição de Jerusalém:
(Jeremias 10:22:)
"Eis aí um rumor! Eis que vem grande tumulto da terra do Norte, para fazer das cidades de Judá uma assolação, morada de chacais."
Deus aponta a porta do norte, pois ele irá castigar os israelitas por causa dos pecados que eles cometeram com as nações e com os reis que vieram do norte, pois sincretizaram suas práticas e seus cultos. O Espírito ainda enfatiza mais sobre o norte quando fala das abominações de Israel:
(Ezequiel 8:14-15)
"Levou-me à entrada da porta da Casa do SENHOR, que está no lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz. Disse-me: Vês isto, filho do homem? Verás ainda abominações maiores do que estas."
Mais uma vez podemos ver que Deus enfatiza a porta norte com as abominações cometidas pelo povo de Israel, mas neste caso em relação com mulheres que estavam chorando por Tamuz, sendo assim, devemos compreender quem é Tamuz. Champlim comenta o seguinte:
"Estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz."
Ezequiel teve uma visão de mulheres chorando dolorosamente por Tamuz, um deus da Babilônia. Segundo as lendas, a cada ano ele morria, quando as plantas não resistiam ao frio do inverno, e sua morte era amargamente lamentada. Parte da lenda diz que o grande dilúvio das lágrimas de seus devotos o trouxe de volta à vida, como as chuvas da primavera dão vida nova à terra. O culto de Tamuz, embora começasse na Babilônia, tornou-se praticamente geral no Oriente. (...) Os sumérios o chamaram de Dumuz. Em alguns lugares, ele era um deus de fertilidade; seu poder cresceu à medida que seu culto se espalhou."
Moody também comenta:
Tamuz. Este deus tem sua origem no Dumuzi sumeriano, o deus do oceano subterrâneo e uma divindade pastoral, cuja irmã consorte, Inana-Ishtar, desceu ao mundo dos mortos para tomar a trazêlo à vida. Em sua adoração encontrarmos semelhanças com o Osíris egípcio, o Baal cananeu e o Adônis sírio.
Quando Deus utiliza aqui o ídolo "Tamuz", isso não foi sem um sentido específico. Penso que Ele queria enfatizar duas coisas: o culto babilônico e a ressurreição. Tamuz, segundo a mitologia e confirmado pela Bíblia, era o mito que ressuscitaria dentre os mortos. E como sabemos, Cristo foi aquele que ressuscitou dentre os mortos. Contudo, aqui Deus não quer tipificar Cristo, mas outro que imitaria o Filho de Deus:
(Apocalipse 13:3,4; 17:8)
"Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, (...) "a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá."
Quando a Escritura diz que a besta subiu do abismo ou que ela foi curada da ferida mortal, podemos compreender que o anticristo, conforme João o descreve, de uma forma a imitar a glória e a obra de Cristo, surgirá do abismo para ser adorado. O uso do nome Tamuz no contexto de Ezequiel 8 nos permite afirmar com certeza que o Senhor está fazendo um link, uma projeção profética do fim. As mulheres que choravam por esse ídolo, representam aqueles que, mesmo habitando em Jerusalém e pertencendo ao templo de Deus, adorarão um falso deus, Tamuz, mas no futuro, seguirão a besta.
Podemos perceber claramente que todos os elementos apresentados estão associados à porta do norte, que representa a entrada do culto babilônico em Israel. Deus castigará o povo que se corrompeu com os ídolos do norte, por meio do rei do norte, Nabucodonosor. Devemos entender que essas figuras, as direções e outros elementos são ilustrativos para nós e, por meio do Espírito, poderemos ter o discernimento correto do que esses textos querem dizer.
Quando Ezequiel cavou na parede do templo e viu o que os israelitas faziam nas trevas, as imagens e desenhos que estavam ali nas paredes, podemos entender que o significado de "fazer nas trevas" ou "fazer no oculto" representa o que Deus via dentro do coração daqueles homens: abominações. Deus vê o que está no oculto, conforme é dito na própria Escritura:
(Apocalipse 2:23)
"(...) todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras."
Deus utilizou termos humanamente compreensíveis para que pudéssemos compreender aquilo que o Espírito havia sondado nos corações daqueles homens. O templo representava o povo de Deus, a casa de Deus, mas agora havia se tornado casa de um ídolo. Deus revelou mais o coração deste povo quando disse:
(Ezequiel 8:6-12)
"Disse-me ainda: Filho do homem, vês o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário? Pois verás ainda maiores abominações. Ele me levou à porta do átrio; olhei, e eis que havia um buraco na parede. Então, me disse: Filho do homem, cava naquela parede. Cavei na parede, e eis que havia uma porta. Disse-me: Entra e vê as terríveis abominações que eles fazem aqui. Entrei e vi; eis toda forma de répteis e de animais abomináveis e de todos os ídolos da casa de Israel, pintados na parede em todo o redor. Setenta homens dos anciãos da casa de Israel, com Jazanias, filho de Safã, que se achava no meio deles, estavam em pé diante das pinturas, tendo cada um na mão o seu incensário; e subia o aroma da nuvem de incenso. Então, me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? Pois dizem: O SENHOR não nos vê, o SENHOR abandonou a terra."
Quando Ezequiel cavou na parede do templo e viu o que os israelitas faziam nas trevas, as imagens e as imagens e desenhos que estavam ali nas paredes, podemos entender que o significado de "fazer nas trevas" ou "fazer no oculto", representa o que Deus via dentro do coração daqueles homens: abominações. Deus vê o que está no oculto, conforme é dito na própria Escritura:
Apocalipse 2:23
"(...) todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras."
Deus usou termos humanamente compreensíveis para que pudéssemos compreender aquilo que o Espírito havia sondado nos corações daqueles homens. E o que Ele achou? Animais impuros e ídolos. Aquele templo pode ser entendido como uma representação do indivíduo, de uma pessoa, e que, devendo ser casa para Deus, acabou deixando que ídolos entrassem pela porta norte, e esses agora passaram a habitar no coração do indivíduo. Pois quando vemos que setenta homens no oculto queimam incenso para os ídolos, isso representa que, em seus corações, do povo de Deus, havia culto a esses deuses. No entanto, quando são apresentados animais impuros nas paredes do oculto que Ezequiel observou, isso representa os costumes das nações que os israelitas absorveram e copiaram. Veja o que dizem as Escrituras:
(Levítico 20:23)
"Não andeis nos costumes da gente que eu lanço de diante de vós, porque fizeram todas estas coisas; por isso, me aborreci deles."
(Levítico 18:30)
Portanto, guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos contaminareis com eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Existe um ditado que diz: "somos o que comemos", ou ainda: "diga-me com quem andas e eu te darei quem és". Certamente estes ditados não estão na Escritura, mas expressam exatamente a ideia que queremos: mistura e assimilação. Na Lei, Deus colocou uma série de regras referentes à alimentação, mas que muitas vezes achamos sem sentido e até sem serventia. Porém, isso é um tremendo engano e imaturidade daqueles que não têm o mínimo de compromisso com a Escritura. Se andarmos na carne e interpretarmos apenas pela carne, ou seja, com o "véu de Moisés", não poderemos discernir a realidade das coisas excelentes dadas pelo Espírito, pois, para aqueles que estão na carne, animais impuros representam apenas animais e comida. Mas, para aqueles que têm a mente de Cristo e discernem segundo o Espírito, não significa apenas comida, mas sim a separação do santo e do profano, das trevas e da luz, etc. Em Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo revela para Pedro o que significavam os animais impuros, vejamos o que está escrito:
(Atos 11:5-18)
"Eu estava na cidade de Jope orando e, num êxtase, tive uma visão em que observei descer um objeto como se fosse um grande lençol baixado do céu pelas quatro pontas e vindo até perto de mim. E, fitando para dentro dele os olhos, vi quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum. Isto sucedeu por três vezes, e, de novo, tudo se recolheu para o céu. E eis que, na mesma hora, pararam junto da casa em que estávamos três homens enviados de Cesaréia para se encontrarem comigo. Então, o Espírito me disse que eu fosse com eles, sem hesitar. Foram comigo também estes seis irmãos; e entramos na casa daquele homem. E ele nos contou como vira o anjo em pé em sua casa e que lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa. Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida."
Agora, no capítulo anterior, temos mais uma explicação sobre o significado dos animais impuros:
(Atos 10:27-28)
"Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo."
Em nenhum local está escrito que não se deva considerar qualquer homem como comum ou imundo, mas diz: "que a nenhum homem considerasse comum ou imundo".
"Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum."
Deus falou para Pedro matar e comer os animais impuros, não disse que purificou os homens. No entanto, Pedro fez essa associação quando viu os gentios que vieram a sua procura; ele compreendeu que os animais que apareceram na visão e que foram purificados, os quais Pedro deveria matar e comer, na realidade representavam justamente os gentios, os homens que, pelo Espírito e pela fé, seriam purificados. Em Ezequiel, devemos ter essa lógica e entender que animais impuros pintados e esculpidos nas paredes, na parte oculta, significam o contrário da visão de Pedro. Aqui, esses judeus se contaminaram com as impurezas das nações; lá, os gentios se limparam pela fé e por meio do Espírito. Com efeito, quando eles se misturaram com os gentios, passaram a andar com os povos que Deus não havia permitido. Tipologicamente, era semelhante a comer a carne de um animal e este agora ser participante da sua constituição. Por isso que mencionei o ditado: "somos o que comemos". Portanto, se comemos animais impuros, nós nos tornamos impuros; se andamos com pessoas com costumes impuros, praticaremos as mesmas coisas e seremos como eles.
A Missão do Homem Vestido de Linho
O Capítulo 8 de Ezequiel não menciona o homem vestido de linho, tão-somente dá ênfase nos pecados e corrupções do povo. No entanto, Deus queria mostrar o que estava no íntimo daqueles homens, e demonstramos acima que, através de formas literais, enxerga-se o espiritual. Deve-se, no entanto, entender que o capítulo 8 está intrinsecamente ligado com o capítulo 9, pois no contexto original, quando Ezequiel foi escrito, não havia esta separação de versos e capítulos que hoje temos, tão-somente o texto corrido. Sendo assim, devemos considerar os capítulos 8, 9, 10, 11 e 12 como apenas um bloco profético e que formam uma narrativa. Portanto, não se deve considerar estes capítulos como distintos uns dos outros, mas partes do mesmo contexto. Não tenho a intenção de, neste momento, falar sobre todos estes capítulos, porém apenas explanar sobre este Homem vestido de linho. Ezequiel mostrará o chamamento deste personagem da seguinte forma:
(Ezequiel 8:17-18; 9:1-6)
"Então, me disse: Vês, filho do homem? Acaso, é coisa de pouca monta para a casa de Judá o fazerem eles as abominações que fazem aqui, para que ainda encham de violência a terra e tornem a irritar-me? Ei-los a chegar o ramo ao seu nariz. Pelo que também eu os tratarei com furor; os meus olhos não pouparão, nem terei piedade. Ainda que me gritem aos ouvidos em alta voz, nem assim os ouvirei. Então, ouvi que gritava em alta voz, dizendo: Chegai-vos, vós executores da cidade, cada um com a sua arma destruidora na mão. Eis que vinham seis homens a caminho da porta superior, que olha para o norte, cada um com a sua arma esmagadora na mão, e entre eles, certo homem vestido de linho, com um estojo de escrevedor à cintura; entraram e se puseram junto ao altar de bronze. A glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa; e o SENHOR clamou ao homem vestido de linho, que tinha o estojo de escrevedor à cintura, e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela. Aos outros disse, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele; e, sem que os vossos olhos poupem e sem que vos compadeçais, matai; matai a velhos, a moços e a virgens, a crianças e a mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos chegueis; começai pelo meu santuário."
Podemos ver nestes textos que seis homens com vasos de destruição foram chamados por Deus para executarem o castigo sobre aqueles que praticam abominações. E como vimos, as abominações são todas aquelas coisas descritas no capítulo 8. Historicamente, não há registro de que estes fatos tenham ocorrido, que sete homens tenham destruído e matado muitos habitantes de Jerusalém. Portanto, é bem possível que sejam apenas alegorias ou mesmo eventos que tenham ocorrido no mundo espiritual, mas que tiveram consequências físicas.
O texto bíblico no capítulo 9 inicia com o chamamento de Deus aos "executores da cidade" com seus vasos de destruição. Porém, analisando mais profundamente, mais precisamente no hebraico, temos a palavra "כלי" (keliy) que poderia ser traduzido por "Vasos", "utensílios", receptáculos, etc., portanto, podem nos dar uma ideia de um objeto que transporta algo dentro do seu interior, mas não especificamente uma arma como na tradução. Penso que esta visão faça uma ligação tipológica com o que está escrito em Apocalipse.
(Apocalipse de João 15:5-8)
"Depois destas coisas, olhei, e abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do Testemunho, e os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário, vestidos de linho puro e resplandecente e cingidos ao peito com cintas de ouro. Então, um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da cólera de Deus, que vive pelos séculos dos séculos. O santuário se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos."
Aqui, nesta parte do Apocalipse, vemos uma repetição daquilo que está escrito em Ezequiel, porém com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido. Em Apocalipse, vemos que sete anjos estão com as sete taças da Ira de Deus, porém em Ezequiel vemos que seis homens estão com os seus vasos para executar o castigo de Deus sobre Jerusalém; na realidade, existe um sétimo homem que é justamente o homem vestido de linho. Obviamente, temos um evento cíclico aqui e, por meio deste evento do passado, apontado em Ezequiel, onde Deus castigará seu povo por causa das abominações e corrupções, conforme descrito em Ezequiel 8, podemos ver o que ocorrerá no futuro, quando Deus castigará aqueles que perverterão o evangelho e participarão das abominações dos últimos dias, isto é, a operação do erro.
Ezequiel 8 fala de uma clara apostasia do povo, imagem do ciúme, mulheres chorando a Tamuz, homens virados para o sol, etc. Todos estes eram pessoas que faziam parte do povo de Deus, porque o templo estava no contexto para descrever aqueles que eram participantes das coisas de Deus. No entanto, hoje não temos mais um templo literal, mas, de forma tipológica, estamos no templo do Senhor, no seu tabernáculo. Perceba que havia homens que estavam de costas para o templo e adoravam ao sol, ou seja, uma clara rejeição ao templo do Senhor, pois estes, tendo o conhecimento de Deus, preferiram adorar aquilo que foi criado; ficaram de costas para o caminho que levava até o Santo dos Santos, que sabemos que representa o trono de Deus. Assim serão os homens da última geração de crentes neste mundo; farão segundo as abominações daqueles ímpios do tempo de Ezequiel e rejeitarão ao Senhor em seus corações. Referente a estes, Cristo dirá:
(Mateus 24:15)
"Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda),"
Agora compare com o que diz o primeiro livro dos Macabeus:
(1 Macabeus 1:52-58)
"Muitos de entre o povo — todos os que desprezavam a lei — seguiram a ordem do rei (Antíoco Epifano) e praticaram o mal por todo o país, fazendo com que os de Israel se escondessem em qualquer lugar onde pudessem estar seguros. No dia quinze do mês de Quisleu, do ano cento e quarenta e cinco da era grega, o rei Antíoco mandou construir a abominação desoladora em cima do altar do templo. Construíram altares pagãos nas cidades de Judá e ofereceram incenso em frente das portas das casas e nas ruas. Rasgaram e queimaram também todos os livros da lei que encontraram. E quando encontravam alguém que tinha um livro da aliança e que obedecia à lei, mandavam matá-lo, de acordo com a ordem do rei. Assim, durante vários meses, esses homens abusaram do seu poder e perseguiram os israelitas que encontravam nas cidades do país."
Sei que para muitos, este livro não deve ser lido e que, pelo fato de ser considerado um livro não canônico, deve ser descartado. No entanto, é historicamente comprovado, por Flávio Josefo e outros:
(Flávio Josefo - História dos Hebreus)
"Quando o rei Antíoco Epifânio veio a sitiar essa praça, não sucedeu também outra coisa que confirma o que acabo de referir? Nossos antepassados, em vez de confiar no auxílio de Deus, quiseram ir contra Ele; travou-se o combate e eles perderam. A mortandade foi geral, a cidade foi tomada, saqueada, destruída; o Santuário, manchado e profanado, o serviço de Deus abandonado durante três anos e meio."
Estes relatos do primeiro livro de Macabeus são verídicos e claramente podemos ver aqui a descrição de uma apostasia, que de forma indireta podemos ver também no livro de Daniel:
(Daniel 11:31-32)
"Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora. Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo."
Quando Jesus, no Evangelho de Mateus, cita a abominação da desolação que está relatada no profeta Daniel, no capítulo 11, precisamos entender que historicamente o contexto do profeta aponta para a época em que os seleucidas guerrearam contra Jerusalém e profanaram o culto a Deus. Com efeito, muitos israelitas apóstataram da Lei de Deus e dos costumes bíblicos. Jesus utilizou um contexto do passado e aplicou para um contexto futuro, porque certamente trata-se de um evento cíclico que ocorreu no passado e tornará a ocorrer novamente nos últimos dias.
Os eventos descritos em Ezequiel 8 são muito semelhantes aos descritos em Daniel, Macabeus e Josefo, porém com algumas diferenças, mas o espírito do erro que age por trás é exatamente o mesmo. No entanto, trabalhando em épocas e tempos diferentes. Desde o princípio da humanidade, o diabo tem trabalhado da mesma forma, uma vez que sempre o vemos profanando as coisas de Deus: Adão e Eva profanaram a criação quando comeram da árvore do conhecimento; os primeiros homens profanaram o mundo pós-queda e encheram o mundo de violência; Cam profanou a honra de seu pai quando zombou de sua nudez; os israelitas profanaram a fé e a confiança em Deus quando duvidaram de Deus no deserto; os dois filhos de Arão profanaram o culto a Deus quando introduziram fogo estranho no tabernáculo de Deus e assim sucessivamente até nossos dias.
Porém, haverá uma profanação final, a que o apóstolo Paulo nos ensina em um de seus escritos:
(Segunda Tessalonicenses 2:3-4)
"Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus."
Aqui vemos a verdadeira abominação da desolação e o cumprimento de todos os ciclos proféticos do passado. Assim como Cristo teve seus ciclos de projeções proféticas, também este teve suas projeções proféticas, portanto ciclos e mais ciclos de abominações da desolação. Cristo é apontado como o Santo dos santos; este será a Abominação das abominações, o Ímpio dos Ímpios. Temos a tendência de olhar este texto da Segunda Epístola aos Tessalonicenses de uma forma muito literal e voltada a um templo literal edificado por judeus que aceitarão o anticristo, o chamado "terceiro templo". No entanto, penso eu, que Paulo aqui estava indo muito além disso, estava querendo mostrar a apostasia e o esfriamento do amor do povo de Deus. É possível afirmar que haverá um templo literal edificado por judeus, mas penso que aqui Deus está tratando do santuário real, aquele que ele edificou em seu povo.
Quando Paulo expõe que o anticristo se assentará no santuário de Deus e ostentando-se como sendo o próprio Deus, o "homem do pecado", faz uma relação com o que Cristo disse no Evangelho de Mateus, a "Abominação da Desolação no lugar Santo". Jesus e Paulo estão falando as mesmas coisas com palavras diferentes, e isso é demonstrado em Ezequiel como a "Imagem do Ciúmes". Consequentemente, o cumprimento de tudo isso aparecerá no livro de Apocalipse da seguinte forma:
(Apocalipse de João 13:14-15)
"Seduz os que habitam (o falso profeta, a besta da terra) sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta."
Apocalipse revela claramente o que significa a abominação da desolação: a "imagem da besta". Este é o significado preciso de abominação da desolação. Portanto, assim como no livro de Ezequiel vemos que a imagem de um deus, Tamuz, que, segundo as crenças pagãs, ressuscitava dentre os mortos e que foi introduzida no templo, assim também a imagem da besta, da besta que se levantará do abismo, será introduzida no Templo de Deus, no lugar santo, não em um santuário literal, mas na mente e no coração daqueles que deveriam ser servos de Deus.
A intenção aqui não é falar sobre a imagem da besta, mas sim falar sobre o Homem vestido de linho. No entanto, achei importante explanar a realidade do que podemos encontrar tipologicamente em Ezequiel 8. Agora, quero mencionar outros detalhes da profecia para que o presente estudo não se torne demasiado cansativo, portanto, retornaremos ao relato deste:
(Ezequiel 9:3-5)
"A glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa; e o SENHOR clamou ao homem vestido de linho, que tinha o estojo de escrevedor à cintura, e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela. Aos outros disse, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele; e, sem que os vossos olhos poupem e sem que vos compadeçais, matai;"
Como já demonstramos acima, este Homem vestido de Linho, que conforme vimos trata-se de Cristo, tem uma missão: selar com uma marca nas frontes aqueles que suspiram e gemem por conta das abominações que estavam ocorrendo em Jerusalém. Isso nos faz lembrar do que Pedro falou sobre o Justo Ló:
(Segunda Epístola de Pedro 2:6-8)
"e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles),"
Antes da destruição de Sodoma e Gomorra, Ló atormentava sua alma por conta da libertinagem que os homens faziam nesta cidade. Ló era habitante desta cidade, porém gemia e suspirava com as coisas que todos os dias ele presenciava. No entanto, o Senhor não esqueceu este justo; pelo contrário, o salvou da destruição, mas castigou os ímpios. O que vemos em Ezequiel é mais um ciclo daquilo que já havia ocorrido no passado com Ló. Porém, agora, em uma escala maior, onde muitos dentre o povo afligirão suas almas e suas vidas pelas abominações que verão. Além disso, tornará a ocorrer nos últimos dias, como é relatado no Apocalipse, mas como o cumprimento do último ciclo:
(Apocalipse de João 7:1-3)
"Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus."
Em Apocalipse, vemos uma cena semelhante, mas com um anjo que traz o Selo do Deus Vivo e, junto a este, quatro anjos que têm o poder de causar dano, mas só poderão causar qualquer dano depois que os homens forem selados, não antes. Na realidade, temos a mesma coisa em Ezequiel, porém com palavras diferentes. Enquanto aqui em Apocalipse temos um Anjo com o Selo do Deus Vivo, em Ezequiel temos o Homem vestido de linho com tinteiro e estojo. Além disso, em Apocalipse, temos quatro anjos que têm autoridade para fazer dano, semelhante aos seis homens com suas armas de destruição. Obviamente, não posso aqui traçar todos os paralelos ou mesmo explicar todos os detalhes. Contudo, podemos demonstrar o essencial de todos estes contextos.
Como vimos na história de Ló e que este afligia sua alma por conta das libertinagens dos sodomitas, também em Ezequiel os homens que serão marcados na fronte precisarão gemer e suspirar devido às abominações que presenciarão. Mas referente àqueles que serão marcados na fronte em Apocalipse, não há menção disso. No entanto, com base nos contextos do passado, de Ló e de Ezequiel, podemos entender que aqueles homens de Apocalipse, que é possível ver no capítulo, serão chamados de 144 mil.
Esses 144 mil representam aqueles do povo de Deus que gemerão e se afligirão com as abominações que serão introduzidas no meio do povo de Deus e, por isso, serão selados. Portanto, em Ezequiel, aqueles que receberam as marcas em suas frontes representam os 144 mil.
O Castigo Virá
Para finalizar este estudo, que, por sinal, está um pouco longo, quero explanar a parte do castigo que os ímpios sofrerão, o qual serve para nós como exemplo do que sucederá aos que se desviam das palavras do Senhor e abandonam sua fé. Vejamos o que diz Ezequiel:
(Ezequiel 9:5-11)
"Aos outros disse, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele; e, sem que os vossos olhos poupem e sem que vos compadeçais, matai; matai os velhos, os moços, as virgens, as crianças e as mulheres, até exterminá-los. Mas a todo homem que tiver o sinal, não vos chegueis; começai pelo meu santuário." Então, começaram pelos anciãos que estavam diante da casa. E ele lhes disse: "Contaminai a casa, enchei os átrios de mortos e saí." Saíram e mataram na cidade. Havendo-os eles matado, e ficando eu de resto, caí com o rosto em terra, clamei e disse: "Ah! SENHOR Deus! Dar-se-á o caso destruíres todo o restante de Israel, derramando o teu furor sobre Jerusalém?" Então, me respondeu: "A iniqüidade da casa de Israel e de Judá é excessivamente grande, a terra se encheu de sangue, e a cidade, de injustiça; e eles ainda dizem: 'O SENHOR abandonou a terra, o SENHOR não nos vê.' Também quanto a mim, os meus olhos não pouparão, nem me compadecerei; mas sobre a cabeça deles farei recair as suas obras." Eis que o homem que estava vestido de linho, cuja cintura estava o estojo de escrevedor, relatou, dizendo: "Fiz como me mandaste."
Podemos perceber aqui que, nesse contexto de corrupção, aqueles que eram considerados justos receberam uma marca, uma pintura em suas testas, pois essa pintura era a garantia do livramento do castigo. Nas histórias bíblicas, vemos outros relatos semelhantes a esses, por exemplo: os israelitas no Egito que precisaram colocar o sangue nos umbrais das portas para não serem atingidos pelo destruidor, ou mesmo quando Raabe precisou ficar dentro de sua casa com o cordão vermelho para não ser participante da destruição de Jericó. Certamente, temos um reflexo das coisas que ocorrerão no fim, pois o Senhor tem selado seus escolhidos para que não sejam atingidos pela ira que cairá sobre o mundo. Nós, hoje, recebemos o sangue para sermos livres da ira e o penhor do Espírito como garantia de nossa ressurreição.
O Senhor promete, mais uma vez, passar entre o povo, como diz o profeta:
(Amós 5:16-17)
"Portanto, assim diz o Senhor, o SENHOR, Deus dos Exércitos: Em todas as praças haverá pranto; e em todas as ruas dirão: Ai! Ai! E ao lavrador chamarão para o pranto e, para o choro, os que sabem prantear. Em todas as vinhas haverá pranto, porque passarei pelo meio de ti, diz o SENHOR."
Agora, comparemos com o relato da páscoa:
(Êxodo 12:22-23,29-30)
"Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o SENHOR passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o SENHOR aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir. … Aconteceu que, à meia-noite, feriu o SENHOR todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogênito do cativo que estava na enxovia, e todos os primogênitos dos animais. Levantou-se Faraó de noite, ele, todos os seus oficiais e todos os egípcios; e fez-se grande clamor no Egito, pois não havia casa em que não houvesse morto."
Como vimos em Amós, o Senhor afirma: "passarei no meio de ti" e ainda: "em todas as vinhas haverá pranto", o mesmo que ocorreu no Egito tornará a ocorrer no meio do povo. Em todas as casas dos egípcios, houve pranto e lamentação pela morte dos primogênitos, porque o SENHOR passou pelo meio da terra e feriu os primogênitos. Mas, agora, o Senhor afirma: "passarei no meio de ti". Assim, aqueles que estiverem com azeite em suas vasilhas e com a marca do sangue em seus corações serão conduzidos para as Bodas, mas aqueles que preferirem permanecer em suas abominações serão como virgens néscias e insensatas que não poderão participar das Bodas do Senhor. Pelo contrário, serão lançadas fora, nas trevas, e receberão a condenação, pois não se prepararam:
(Mateus 25:5-10)
"E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta."
O Senhor passou no meio do seu povo aqui neste texto mais uma vez, e do mesmo modo que no Egito, o Senhor passou no meio da terra à meia-noite. Assim, Cristo passará por seu povo à meia-noite em sua gloriosa vinda. Mas se não estivermos com o Selo do SENHOR, certamente pereceremos.
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