O Mundo dos Mortos é um Mendigo que Nunca se Farta
Podemos dizer que, a partir deste ponto do estudo, o seu discernimento sobre a morte será um pouco diferente, pois apresentarei textos que demonstrarão que a morte nada mais é do que um local que, à semelhança de um mendigo, eternamente pede e exige as almas dos mortos, aquelas sobre as quais ela tem domínio. A morte na Bíblia, o Sheol e o equivalente grego Hades, serão retratados na Bíblia como a tipologia de um ser que possui boca, ventre e se alimenta, porém, eternamente sente fome. Para comprovar isso, podemos analisar as palavras que o próprio Senhor Jesus diz:
Mateus 12:40: "Porque assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra."
Deus utilizou a figura de um grande peixe que estava nos mares para fazer uma analogia com o Sheol, que é descrito como estando abaixo dos mares, no grande abismo. Assim, esse grande peixe, ao engolir Jonas, era uma representação do Sheol, que, no momento da morte dos homens, os engole e os leva para dentro do seu ventre. Cristo enfatiza a expressão "ventre do grande peixe" para que entendamos que também o inferno, o mundo dos mortos, também tem um ventre, e lá estão aqueles que um dia andaram sobre a terra. Jonas comprovará isso quando diz:
Jonas 2:1-2
Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao SENHOR, seu Deus, e disse: Na minha angústia, clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do abismo (Sheol), gritei, e tu me ouviste a voz.
Enfatizando novamente, o reino da morte é descrito na escritura como um ser que não se farta, tem boca, estômago e está constantemente com fome, conforme podemos ver a seguir:
Isaías 5:13-14: "Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede. Por isso, a cova (SHEOL) aumentou o seu apetite, abriu a sua boca desmesuradamente; para lá desce a glória de Jerusalém, e o seu tumulto, e o seu ruído, e quem nesse meio folgava."
Deus colocou Jonas em um grande peixe como uma figura de Cristo que seria engolido pela morte, mas depois dos três dias, o grande peixe vomitou Jonas para que pudéssemos entender que a morte não poderia conter o Cristo dentro de si, conforme dizem os Salmos:
O Livro dos Salmos 16:10: "Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."
E Pedro vai complementar os Salmos, dizendo:
Atos dos Apóstolos 2:23-24: "sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível que ele fosse retido por ela."
A morte também pode ser descrita como uma prisão que acorrenta todos aqueles que lá vão, pois todos os que cometem pecado estão sob a autoridade dela e ficam sujeitos ao poder da morte:
O Livro dos Salmos 49:14-15: "Como ovelhas, são postos na sepultura; a morte é o seu pastor; eles descem diretamente para a cova, onde a sua formosura se consome; a sepultura é o lugar em que habitam. Mas Deus resgatará a minha alma do poder da morte, pois Ele me tomará para Si."
Esse mesmo poder em Oseias é chamado de "poder do inferno", mas, na realidade, é a mesma coisa: a autoridade da morte sobre o pecador. Portanto, veja o que diz o texto:
Oseias 13:14: "Eu os redimirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não veem em mim arrependimento algum."
Ora, aquele que está sob pecado é semelhante a um homem que comete crimes e, quando é capturado, é levado à prisão e permanece sob o poder da justiça. Da mesma forma, os pecadores, quando morrem, são trancafiados no Hades e ficam sob o poder da morte até o dia do grande juízo. No entanto, no caso de Cristo, podemos entender da seguinte forma: imagine um homem condenado injustamente; após a confirmação de sua inocência, a justiça não pode mais ter autoridade sobre ele e o liberta da prisão. Da mesma maneira, quando Cristo morreu, a morte foi obrigada a libertá-lo, pois não tinha autoridade sobre Ele; Ele não estava sob o poder da morte. Em outras palavras, as portas do inferno se abriram para que Ele saísse do reino das trevas.
A morte, como um animal peçonhento, pica os homens com seu ferrão, que é o pecado, conforme Paulo mesmo revela por inspiração do Espírito, dizendo:
Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios 15:56: "O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei."
A morte está constantemente envenenando os homens através do pecado e, depois de contaminá-los, age como uma serpente que, após inocular o veneno em suas vítimas, as devora. Da mesma forma, a morte devora aqueles que pecam, pois a lei diz: "Aquele que pecar, morrerá." Todos aqueles que pecam recebem como salário a morte, pois está escrito:
Epístola de Paulo aos Romanos 6:23: "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor."
Deus utilizou a figura de uma serpente para falar do diabo, pelo fato de que, por meio de sua língua, ou seja, sua fala, toda a raça humana ficou sob o pecado, e se há pecado, a morte tem autoridade sobre eles. No entanto, também é dito: Números 21:6-9
Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel. Veio o povo a Moisés e disse: Havemos pecado, porque temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós as serpentes. Então, Moisés orou pelo povo. Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava.
Deus enviou serpentes para picar o povo, mostrando que eles estavam contaminados pelo pecado. Assim como as serpentes mataram aqueles, a morte, quando pica com seu ferrão os homens, também os mata. O diabo é chamado de serpente, pois podemos dizer que ele e a morte estão ligados, porque segundo a própria escritura ele também tinha o poder da morte:
Hebreus 2:14-15 (João Ferreira de Almeida - Almeida Atualizada):
"Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida."
Jesus livrou da morte todos aqueles que, pela fé, são perdoados de suas transgressões e já não estão mais debaixo da autoridade da morte, pois onde não há transgressão, não há morte. Portanto, sobre esses, a morte já não pode requerer nada. Ora, quando o diabo seduz alguém e este é enganado e peca, tal pessoa é envenenada pelo pecado e, consequentemente, a morte passa a ter autoridade sobre esse, pois a força legal desta é o pecado. No entanto, quando Jesus purifica esses, o pecado é perdoado e assim se cumpre o que a Lei apontava: todo aquele que olhasse para a serpente de bronze seria curado das mordeduras da serpente. Mas falando em termos mais amplos, todos os que olham por meio da fé para o sacrifício de Cristo são curados do veneno da morte e agora são justos diante de Deus.
Podemos dizer que a morte é parte do diabo, pois a morte só passou a surgir por conta deste. Sobre ele se atribui o pecado, porque os anjos, no princípio da criação, caíram pelas mentiras do sedutor, e no início da criação deste mundo, os homens caíram pelo mesmo engano. Além disso, é dito que o diabo é assassino desde o princípio. O diabo foi responsável pela morte dos homens e pela destruição dos anjos pecadores, mas o final de todos eles será o mesmo: a segunda morte. Até a morte será castigada pela segunda morte.
Todas essas alegorias descritas acima falam da relação com a morte, e como sabemos, as serpentes estão sempre à espera de poderem se alimentar de suas vítimas. Da mesma forma, a morte está sempre desejando alimentar-se da morte dos homens, e depois que estes são infectados pelo pecado, aquela reclama o que lhe é devido. Eis aqui o sentido de "sheol": aquele que pede. A morte constantemente reivindica o que lhe é devido, mas apenas Deus concede esse desejo. Isso está descrito nos textos a seguir:
Lucas 22:31-32 (João Ferreira de Almeida - Almeida Atualizada):
"Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos."
Pedro, devido ao erro que cometeria quando negasse o Senhor, desviando-se, faria com que Satanás reclamasse sua vida para que esta fosse ceifada como trigo. No entanto, Jesus intercedeu diante de Deus para que a vida dele não fosse tirada, pois, devido a esse erro, a morte poderia agora reivindicar sua vida. No entanto, Jesus intercedeu diante do Pai, pois em Pedro havia fé para a salvação e para o perdão dos pecados. Devemos entender que, para aqueles que não estão em Jesus, a morte reivindica a vida, e Deus concede autoridade a ela sobre aqueles que estão debaixo do pecado. Sobre essa afirmação, podemos ver o que é dito sobre o homem rico que vivia esbanjando suas riquezas, mas era pobre para com Deus:
Lucas 12:16-20 (João Ferreira de Almeida Strong)
E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Podemos perceber que no texto acima, o homem rico, que muitos não sabem, trata-se do mesmo homem rico descrito no capítulo 16, onde o mendigo Lázaro morre e vai para junto de Abraão. No entanto, aqui Deus dá mais um vislumbre da história daquele homem, no sentido de que ele vivia uma vida regalada em suas próprias avarezas, mas sem Deus. Perceba que no final Jesus diz: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?"
Ora, quem pedirá a alma deste pobre homem? Exatamente a morte, que por meio do pecado e da ausência de Deus, reclamou-lhe a vida. Lembrando que o termo "pedir" é a expressão hebraica "shaal", que justamente dará origem ao termo "sheol", o local dos mortos. O diabo contaminou tal homem com o pecado, e a morte abriu a sua boca com a cova e devorou a carne deste, que agora está acorrentado em seu ventre e só sairá no dia do grande julgamento que cairá sobre todos os ímpios. O pecado é o ferrão da morte, mas a boca pela qual ela se alimenta é a terra, que decompõe os homens até que eles se tornem pó:
O Primeiro Livro de Moisés, chamado Gênesis 4:9-11: "Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão."
Ora, quando Abel morreu, a terra abriu sua boca para receber o sangue, ou seja, a vida de Abel que foi ceifada por meio do pecado de Caim. Assim tem sido com todos os homens, pois quando estes são sepultados, estão sendo devorados e degustados pela morte. No entanto, como diz a escritura sobre o Cristo: "O teu Santo não verá a corrupção". Ora, Cristo não passou por corrupção, portanto a morte não o devorou, nem mesmo degustou seu corpo que não foi contaminado pelo pecado. Tendo vencido o pecado, Ele foi libertado ao terceiro dia. A terra será comparada à boca do Sheol, por meio da terra, o Sheol devorará suas vítimas, consumirá a carne dos mortos, como ocorreu com Abel, e a carne deste tornou-se pó. No entanto, devemos entender que este não é o fim do processo. Depois que a carne é decomposta, o conteúdo interno do homem, ou seja, a parte espiritual, descerá até o ventre, da mesma forma que nos alimentamos, pois depois de degustarmos os alimentos, estes descerão até nosso estômago. Portanto, vamos analisar o seguinte texto:
O Quarto Livro de Moisés chamado Números 16:30-34: "Mas, se o SENHOR criar alguma coisa inaudita, e a terra abrir a sua boca e os tragar (devorar) com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo (Sheol), então, conhecereis que estes homens desprezaram o SENHOR. E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus bens. Eles e todos os que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação. Todo o Israel que estava ao redor deles fugiu do seu grito, porque diziam: Não suceda que a terra nos trague a nós também."
Literalmente, aqui, esses homens desceram vivos até o ventre do Sheol, o solo, ou seja, a boca do Sheol devorou-os com todas as suas coisas. No entanto, devemos entender que "abismo" é o profundo da morte, e para lá descem aqueles que morreram aqui na terra. Claramente, Deus nos mostra que lá existe um fogo aceso que consome, ou seja, devora aquilo que lá está:
Deuteronômio 22:32
Porque um fogo se acendeu no meu furor e arderá até ao mais profundo do inferno (Sheol), consumirá a terra e suas messes e abrasará os fundamentos dos montes.
Sim, irmãos, o profundo do Sheol, que conhecemos como inferno, o mundo dos mortos, é precisamente o ventre do inferno. Lá, as almas dos ímpios estão sendo digeridas. Claro que isso é uma metáfora para representar o processo da morte, mas pode ser entendida exatamente como no nosso próprio corpo. Nos alimentamos por meio da boca, mas no caso do Sheol, é por meio da terra, e os alimentos, no entanto, descem até o estômago e lá são digeridos. A diferença é que, no Sheol, os ímpios descem até as profundezas e estarão acorrentados lá até o tempo em que ocorrerá o grande julgamento. E a própria morte, por ter sido vencida na cruz, o último inimigo, será tragada e consumida pela segunda morte, que é o Geena: 1 Coríntios 15:25-26 (João Ferreira de Almeida Strong)
Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Apocalipse 20:11-14 (João Ferreira de Almeida Strong)
Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo.
Sim, no dia do grande juízo, os mortos que estão retidos por ela serão devolvidos e ressuscitarão para estar diante de Deus e serem julgados. Mas podemos entender que a própria morte será capturada e o seu estômago, isto é, o profundo do inferno, será aberto e dela serão tirados os ímpios. No entanto, até esse tempo, a morte pede como um mendigo, clama para que suas vítimas possam preencher o seu estômago que não tem fim. No entanto, ela só terá autoridade sobre aqueles que, por conta do pecado, recebem a autorização de Deus para morrerem. Pois é dito em Isaías com referência aos ímpios:
Isaías 5:13-14: "Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede. Por isso, a cova (SHEOL) aumentou o seu apetite, abriu a sua boca desmesuradamente; para lá desce a glória de Jerusalém, e o seu tumulto, e o seu ruído, e quem nesse meio folgava."
Aqui, quando fala do povo sendo levado cativo, não está falando no sentido de serem levados para a Babilônia, mas fala sobre o cativeiro da morte, pois pela morte serão feitos prisioneiros e em seu ventre estarão até o dia da ressurreição dos ímpios.
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